Doze de Junho de 2011. Dia dos namorados! Mesmo sendo um portador de fissura labiopalatina [reabilitada], isso não deveria me atrapalhar em nada para namorar. Namorei por quase dois anos e sempre, como costuma-se dizer hoje em dia, "fiquei" por aí, nas baladas.
Mas eu não sei bem; o frio, o stress, o fim do semestre junto com o fim da faculdade... medos! Alguns medos estavam me perseguindo ontem e nesses últimos dias. Foi aí que, no meu quarto, no fim do fim de semana, pus uma música e rezei a Deus. Num questionamento, perguntei a Ele: "Por que, meu Deus? Por que tenho que ter tido essa fissura que me deixa tantas marcas e insegurança!?". Talvez essa pergunta tenha surgido por causa de um e-mail que recebi outro dia, de um psicopata doente (que Deus o perdoe e eu também o consiga perdoar!), que dizia: "Seu monstro de boca deformada! (...) seu boca torta!". Daí me lembrei de um outro cara que, um dia me disse, "quando te conheci, achei que era o monstrinho de Notredame...". E tudo isso me doeu. E ainda dói.
Eu estava triste. Ouvia a música que dizia "eu sei bem o que me dizes, sei também que tens chorado (...) ninguém te ama como eu!" e chorava mais ainda. Olhava para a cruz e imaginava meu sofrimento - que aos olhos de algumas pessoas, não é nada! Mas cada um sabe onde seu sapato aperta e onde dói mais o pé... - unido ao sofrimento do Cristo. Jesus que também havia sido rejeitado certamente me compreendia.
Acordei e o dia estava lindo, apesar de frio. Céu azul. Pela hora do almoço o telefone toca e uma mulher, do outro lado da linha, queria falar com a "Metamorfis". Parecia preocupada e um pouco aflita. Depois de uma breve conversa, soube que seu filhinho, de três anos, tinha uma fissurinha no palato e pude, então, orientá-la em algumas coisas. Ela havia me encontrado graças ao blog da Metamorfis. À noite, decidi que não iria para a faculdade; mas o interfone tocou. O porteiro anunciava um rapaz, que meus pais haviam conhecido no Parque da Juventude e que visitei há uns anos atrás. Era um portador de fissura que queria conversar comigo, porque procura emprego e não encontra e acha que isso se deve à fissura e, portanto, queria saber de mim o que eu achava.
Eu não sei o que eu represento para esse rapaz. Eu também não faço ideia do que eu vou mudar na vida daquela mãe e daquela criança. Mas eu sei que Deus estava, por essas duas "coincidências" (que prefiro chamar de "providências") me respondendo a questão... e bendigo a Deus por isso! Sei que, para a minha pergunta: "Por que, meu Deus?", Deus me diz: "Para que eles tenham Vida e Vida em abundância!".
Então hoje fico muito feliz, por ser instrumento de Deus. E por Ele me mostrar a utilidade do sofrimento, em favor de algo muito maior. Parafraseando São Paulo: “eu vivo, mas já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim” (Gálatas 2,20). E como pedia o padroeiro dos fissurados, São Francisco, na oração da paz, continuo a pedir ao Senhor: "Fazei-me um instrumento de vosso amor!"